Auxílio para as vítimas

Auxílio para as vítimas

Auxílio para as Vítimas

O termo abuso se refere a maus-tratos ou à negligência de outras pessoas de modo a causar danos físicos, emocionais ou sexuais. O abuso vai contra os ensinamentos do Salvador. O Senhor condena todas as formas de comportamento abusivo.

“A posição da Igreja é a de que não se pode tolerar forma alguma de maus-tratos ou abuso” (Manual 1: Presidentes de Estaca e Bispos, 2010, 17.3.2). O abuso viola as leis de Deus e pode ser também uma violação das leis da sociedade. O Senhor espera que sejamos vigilantes em prevenir o abuso e proteger as pessoas que têm sido vítimas dele. Não se espera que as pessoas tolerem o comportamento abusivo.

Se estiver sendo vítima de abuso, ou tiver sido no passado, você não precisa enfrentar isso sozinho. Talvez você se sinta confuso, impotente, assustado, isolado, envergonhado ou como se tivesse perdido seu valor. “Lembrai-vos de que o valor das almas é grande à vista de Deus” (Doutrina e Convênios 18:10), e a sua alma é “tão preciosa como [qualquer] outra” (Jacó 2:21). Os amigos, familiares, líderes da Igreja e outras pessoas podem conectar você a recursos que farão com que se sinta seguro e consiga se curar e se lembrar de seu valor. Você é uma pessoa amada e pode encontrar esperança e cura por intermédio do sacrifício expiatório do Salvador Jesus Cristo.

O conteúdo deste material foi criado para ajudar as vítimas de abuso e para orientar os líderes e outros a ministrar às pessoas e famílias que foram afetadas por esse problema. Existem diversos termos usados para descrever pessoas que sofreram abuso. Para este site, a palavra vítima é usada para descrever qualquer pessoa que sofreu ou está sofrendo abuso.

Essas informações fornecem orientação e recursos para:

Recursos de aconselhamento e informações para os membros do conselho da ala sobre o tema abuso estão disponíveis em CounselingResources.org.

Os líderes devem pensar em maneiras de assegurar que os membros do conselho tomem conhecimento desses recursos. Os membros e os líderes são incentivados a conhecer e usar os recursos locais confiáveis para ajudar durante as crises, bem como apoio de longo prazo.

Posso ser curado do abuso?

A cura é possível. Você pode se curar de qualquer tipo de abuso com a ajuda do Salvador por meio de Sua Expiação.

Para muitos que foram molestados, é quase impossível acreditar que a dor que carregam pode ser substituída por paz. As feridas do abuso podem passar despercebidas ou não ser reconhecidas por muitos anos. As outras pessoas podem não se dar conta de sua dor porque você a esconde atrás de um sorriso e vivendo como se nada estivesse errado.

Enquanto era prisioneiro na Cadeia de Liberty, o profeta Joseph Smith escreveu uma epístola à Igreja que incluía os “deveres dos santos com relação aos seus perseguidores” (ver Doutrina e Convênios 123, cabeçalho da seção). Na epístola, ele não disse aos santos que sofreram perseguição e injúrias físicas que guardassem seu sofrimento para si mesmos e fingissem que nada tinha acontecido. Ao contrário, ele os instruiu a juntar os relatos de seus sofrimentos e apresentá-los perante as autoridades.

Do mesmo modo, você não precisa esconder ou fingir que nada aconteceu. Pode ser que se sinta desamparado, impotente, solitário ou isolado. O que quer que pense ou sinta, saiba que você é de infinito valor e é amado (ver Doutrina e Convênios 18:10).

O processo de cura

A cura ajudará a reduzir sua dor. É um processo que leva tempo, mas é possível com a ajuda do Salvador Jesus Cristo devido a Seu sacrifício expiatório a nosso favor.

O processo de cura inclui os passos a seguir:

  • Reconhecer e lamentar a perda

  • Compartilhar seu fardo com outras pessoas

  • Reconhecer o impacto do abuso em sua vida e buscar aconselhamento profissional se necessário

  • Compreender que sua experiência com o abuso não define quem você é.

  • Confiar na capacidade de cura de Deus

Pergunte a si mesmo o seguinte enquanto trabalha nesse processo:

  • Como o abuso influenciou minha vida?

  • Em que ponto estou no processo de cura?

  • O que pode me ajudar a seguir em frente?

Pense em comparar o processo de cura emocional com os cuidados e o tratamento de uma lesão física. Suponha que, quando você era jovem, quebrou uma perna. Em vez de ir ao médico para tratar a lesão, você fica mancando até a dor profunda passar, mas sempre sente uma dorzinha a cada passo dado. Anos mais tarde, você quer que a dor desapareça, então procura um médico. O médico precisa realinhar o osso, remover todos os acréscimos ósseos irregulares formados, engessar a perna e encaminhá-lo para fisioterapia para fortalecê-la.

Ao buscar a cura para o abuso, você precisa primeiro reconhecer que a dor é real e que algo a respeito pode ser feito. O processo inclui o reconhecimento do que aconteceu, permitindo que os sentimentos de dor, de medo e de tristeza sejam validados. Geralmente é útil trabalhar com um profissional experiente nesse processo de cura. (Consulte seu bispo para saber que recursos dos Serviços Familiares estão disponíveis em sua área.)

Enquanto você trabalha no processo de cura, suas lembranças do abuso podem permanecer; entretanto, a intensidade das emoções e o impacto negativo que essas experiências produzem em sua vida diminuirão e podem eventualmente se tornar inexistentes.

Quer você tenha ou não acesso ao auxílio profissional, será de grande ajuda se você orar, estudar a vida do Salvador e Sua Expiação, conseguir o apoio de outras pessoas e buscar ajuda espiritual de um líder da Igreja (ver “Onde posso obter ajuda?”). Os líderes da Igreja podem ajudar a aliviar seu fardo e podem receber inspiração para ajudá-lo a compreender seu valor divino e o relacionamento com seu Pai Celestial e o Salvador.

O élder Richard G. Scott, do Quórum dos Doze Apóstolos, declarou: “Testifico solenemente que, quando alguém sofre involuntariamente terríveis atos de violência, perversão ou incesto cometidos por outra pessoa, a vítima não é responsável e não deve se sentir culpada. O abuso ou os maus-tratos podem deixar cicatrizes, mas não é preciso carregar essas marcas pelo resto da vida. (…)

Compreenda que a cura pode levar um tempo considerável. A recuperação geralmente ocorre passo a passo e é mais rápida quando expressamos gratidão a Deus a cada vez que notamos um pequeno progresso” (“Curar as cicatrizes trágicas do abuso”, A Liahona, julho de 1992, pp. 33–34).

Conceder o perdão

Ao trabalhar no processo de cura, com a ajuda do Senhor, você pode desenvolver a capacidade de perdoar aqueles que o prejudicaram.

Parte da cura é chegar a um ponto em que você pode deixar de lado como o agressor será responsabilizado pelas ações dele. Se ele for acusado ou não pelas autoridades civis, todo ofensor um dia terá que ficar diante de Deus (Doutrina e Convênios 137:9).

Independentemente de quando ou como o ofensor é responsabilizado, tenha certeza de que, quando alguém “[exerce] controle ou domínio ou coação sobre a alma dos filhos dos homens, em qualquer grau de iniquidade, eis que os céus se afastam; o Espírito do Senhor se magoa” (Doutrina e Convênios 121:37; grifo do autor). Ver “É possível perdoar?” para obter mais ajuda.

Recursos comunitários e da Igreja

(Alguns dos recursos relacionados a seguir não foram criados, nem são mantidos ou controlados por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Embora esses materiais tenham o objetivo de servir como recursos adicionais, a Igreja não endossa conteúdos que sejam contrários a suas doutrinas e seus ensinamentos. Alguns desses recursos talvez estejam disponíveis somente em inglês.)

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Ainda tenho valor?

Sim, você tem grande valor (ver Doutrina e Convênios 18:10). Como filho ou filha de Deus, você tem infinito e eterno valor e o abuso não pode diminuir ou tirar seu valor à vista Dele.

Se você sofreu abusos, talvez se sinta indigno de receber a atenção e o amor de outras pessoas, inclusive do Pai Celestial. Talvez pense também que o abuso fez com que perdesse sua dignidade de receber as bênçãos do evangelho. Contudo, seu valor não é determinado por algo que tenha acontecido a você.

A irmã Joy D. Jones, presidente geral da Primária, explicou que “valor espiritual significa darmos a nós o valor que o Pai Celestial nos dá, não o valor que o mundo nos dá. Nosso valor foi determinado antes de virmos para a Terra” (“Valorizadas além da medida”, Liahona, novembro de 2017, p. 14).

O abuso pode confundir seu coração e sua mente, fazendo com que você questione seu valor ou sua dignidade. Mas o abuso não diminui nem tira seu valor, porque seu valor nunca muda.

Entender seus pensamentos e sentimentos

Talvez você tenha alguns dos pensamentos ou sentimentos a seguir:

  • Não sou digno.

  • Eu poderia ter evitado isso.

  • Sou culpado.

  • Deus não me ama mais.

  • Ninguém vai me amar.

  • Estou destruído, sem possibilidade de recuperação.

  • A Expiação do Salvador se aplica a outras pessoas, mas não a mim.

  • Preciso ser perfeito.

Esses sentimentos são comuns, mas são mentiras provenientes do adversário. O amor do Pai Celestial e do Salvador por você nunca diminui. Você é digno de ser amado. Pense nas palavras do apóstolo Paulo:

“Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem os poderes, nem o presente, nem o porvir,

nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 8:38–39).

Sabendo que o Pai Celestial é a fonte de toda a verdade, seus medos ou pensamentos negativos podem ser dissipados.

As escrituras nos ajudam a compreender como podemos reconhecer a inspiração e a orientação que advém do Pai Celestial: “Portanto todas as coisas boas vêm de Deus; e o que é mau vem do diabo; porque o diabo é inimigo de Deus” (Morôni 7:12).

Talvez você precise da ajuda de outras pessoas para dissipar seus pensamentos e sentimentos ruins. Quanto mais cedo conseguir ajuda, mais fácil será desenvolver o poder de dominar essas crenças erradas. Nunca é tarde demais para buscar a ajuda e o apoio de que você precisa para acabar com essas crenças.

Entender sua dignidade

Sua dignidade não é determinada por algo que aconteça a você, e você não precisa se arrepender de algo que alguém tenha feito.

Os que sofreram abuso sexual talvez sintam que estão moralmente impuros ou que tenham quebrado a lei da castidade. “As vítimas de abuso sexual não têm culpa (…). Se vocês foram vítimas de abuso, saibam que são inocentes e que Deus ama vocês” (Para o Vigor da Juventude, livreto, 2011, p. 36). Sua virtude não pode ser tirada de você pela ação de outras pessoas.

Seu valor não pode ser diminuído

Entre as verdades mais importantes que podemos entender e conhecer nesta vida estão: quem é nosso Pai Celestial; quem é Seu Filho, Jesus Cristo; quem somos como filhos de Deus e qual é nossa relação com o Pai e com o Filho (ver João 15:1–5; Romanos 8:16–17; Doutrina e Convênios 50:41).

O élder D. Todd Christofferson declarou: “O amor de Deus é infinito e vai durar para sempre” (“Permanecei no Meu amor”, A Liahona, novembro de 2016, p. 48). Deus deseja que sintamos “caridade, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão [e] temperança” (Gálatas 5:22–23). À medida que você entender que o Pai Celestial o ama, começará a compreender seu grande valor e a acreditar nele.

Não há nada que possa acontecer nesta vida, inclusive as ações de outras pessoas, que tenha o poder de diminuir seu valor.

O presidente Thomas S. Monson disse: “Seu Pai Celestial [os] ama — ama a cada [um] de vocês. Esse amor nunca muda. (…) Ele simplesmente está lá. Está lá para vocês quando estiverem tristes ou felizes, [desanimados] ou [esperançosos]. O amor de Deus está lá para vocês, quer sintam que o mereçam ou não. Ele está sempre lá, simples assim” (“Nunca andamos sozinhos”, A Liahona, novembro de 2013, pp. 123–124).

Recursos da Igreja

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Como o Salvador pode me ajudar como vítima de abuso?

O Salvador pode consolar e curar você. O Salvador sentiu nossas dores, aflições, tentações, enfermidades e doenças de toda a espécie (ver Alma 7:11–12). Ele sabe como ajudar, apoiar, curar e consolar você em seus momentos de necessidade, e pode tirar sua dor e seu sofrimento.

Acredite que o Salvador pode ajudar você

Como vítima de abuso, você pode se perguntar como o Salvador pode curá-lo. Talvez pense que o sacrifício expiatório do Salvador foi apenas para aqueles que pecam e precisam se arrepender. Você não deve sentir culpa pelo abuso que sofreu e nem precisa ser perdoado pelas ações que outra pessoa tenha cometido contra você. Então, de que modo o Salvador ajuda você? Graças a Seu sacrifício, Ele compreende o que cada pessoa passou. Apesar de não conseguirmos saber exatamente como o Salvador foi capaz de sentir todas as nossas dores, podemos crer que Ele compreende perfeitamente cada homem, mulher e criança (ver 2 Néfi 9:21). Ele pode nos dar paz e força para seguirmos em frente.

Você pode buscar o poder de cura do Salvador e confiar que Ele vai lhe ajudar.

O élder David A. Bednar, do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou:

“O Salvador sofreu não apenas por nossos pecados e por nossas iniquidades — mas também por nossas angústias e dores físicas, nossas fraquezas e nossos defeitos, temores, nossas frustrações, decepções e nossos desânimos, pesares e remorsos, nosso desespero e nossa aflição, pelas injustiças e desigualdades que vivenciamos, e pelas perturbações emocionais que nos acometem.

Não há dor física, tribulação espiritual, angústia da alma ou sofrimento, enfermidade ou fraqueza que enfrentaremos na mortalidade que o Salvador não vivenciou antes de nós. Num momento de fraqueza, podemos exclamar: ‘Ninguém sabe o que estou passando. Ninguém entende’. Mas o Filho de Deus sabe e entende perfeitamente, porque Ele sentiu e suportou os fardos de cada um de nós. E por causa de Seu infinito e eterno sacrifício (ver Alma 34:14), Ele tem perfeita empatia e pode estender para nós o Seu braço de misericórdia. Ele pode nos auxiliar, tocar, socorrer, curar e fortalecer para que sejamos mais do que jamais poderíamos ser e nos ajudar a fazer o que jamais poderíamos fazer se dependêssemos somente de nossa própria força” (“Carregar seus fardos com facilidade”, A Liahona, maio de 2014, pp. 89–90).

O Salvador tem o poder de ajudá-lo e curá-lo, se você permitir. Às vezes, Ele vai aliviar seus fardos e às vezes vai ajudá-lo a suportar essas aflições com a firme esperança de que um dia você descansará de todas as suas aflições (ver Alma 34:41). Embora talvez você ainda sinta dor, não precisa sofrer sozinho.

O presidente James E. Faust, ensinou: “A pessoa ofendida deve fazer tudo a seu alcance para enfrentar suas provações, e o Salvador irá ‘socorrer seu povo, de acordo com suas enfermidades’ (Alma 7:12). Ele nos ajudará a carregar nossos fardos. Algumas ofensas são tão dolorosas e profundas que não podem ser curadas sem a ajuda de um poder superior e a esperança de perfeita justiça e restituição na vida futura. Como o Salvador sofreu tudo o que poderíamos sentir ou vivenciar, Ele pode ajudar o fraco a tornar-se mais forte. Ele passou pessoalmente por todas as coisas. Ele compreende nossas dores e caminhará a nosso lado, mesmo em nossos momentos mais tenebrosos” (“A Expiação: Nossa maior esperança”, A Liahona, novembro de 2001, p. 20).

Invoque o poder de cura do Salvador

Você pode invocar a ajuda e o poder de cura do Salvador ao orar honestamente e sinceramente ao Pai Celestial para pedir paz, consolo e cura. Você também pode fazer isso ao aprender mais sobre Jesus Cristo e Sua Expiação.

O presidente Russell M. Nelson, ensinou que há quatro coisas que podemos fazer para “invocar em nossa vida o poder de nosso Senhor e Mestre, Jesus Cristo”. Ele nos aconselhou a:

  1. Aprender sobre o Salvador.

  2. Escolher ter fé Nele e Segui-Lo.

  3. Fazer convênios sagrados e os cumprir.

  4. Buscá-Lo.

O presidente Nelson explicou: “Quanto mais sabemos sobre o ministério e a missão do Salvador, quanto mais compreendemos Sua doutrina e o que Ele fez por nós, mais entendemos que Ele pode nos dar o poder de que necessitamos em nossa vida” (ver “Invocando o poder de Jesus Cristo em nossa vida”, Liahona, maio de 2017, pp. 39–41).

O Salvador frequentemente trabalha por meio de outras pessoas

Quando o Salvador nos concede paz e consolo por meio do Espírito Santo, Ele com frequência também convida outras pessoas a nos servir. O presidente Spencer W. Kimball ensinou a seguinte verdade: “Deus está atento a nós e preocupa-Se conosco. Contudo, é por meio de outras pessoas que Ele costuma atender a nossas necessidades” (“Small Acts of Service”, Ensign, dezembro de 1974, p. 5).

Como vítima de abuso, você pode sentir-se completamente sozinho. Ao orar ao Pai Celestial, peça a Ele a capacidade de reconhecer quando as pessoas estiverem se aproximando de você para ajudá-lo. E humildemente permita que outras pessoas ajudem você de maneiras pequenas e simples. Às vezes essa pessoa pode ser um irmão ministrador ou uma irmã ministradora, um cônjuge, outro membro da família ou um membro da Igreja (ver “Onde posso obter ajuda?”). Permita que essas pessoas o ajudem a estar em contato com outros recursos para proteção e cura, inclusive ajuda médica, de terapeutas profissionais e líderes da Igreja. Ao associar o apoio espiritual à ajuda profissional, você pode começar a encontrar esperança e cura.

Recursos da comunidade e da Igreja

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E se eu achar que sou culpado pelo abuso?

Se você é vítima de abuso, você não é responsável pelo que aconteceu. Não importa onde estava, o que disse ou fez, o que estava vestindo ou o que aconteceu antes. Falando às vítimas de abuso, o élder Richard G. Scott, do Quórum dos Doze Apóstolos, declarou: “Testifico solenemente que, quando alguém sofre involuntariamente terríveis atos de violência, (…) cometidos por outra pessoa, a vítima não é responsável e não deve se sentir culpada” (“Curar as cicatrizes trágicas do abuso”, A Liahona, julho de 1992).

Não é sua culpa

Embora outras pessoas possam ter procurado lhe assegurar que o abuso não é sua culpa, ainda é comum que você acredite que é culpado pelo que aconteceu.

Algumas razões pelas quais as vítimas podem se sentir culpadas incluem as seguintes:

  • São acusadas de mentir.

  • Foi-lhes dito que a culpa pelo abuso é delas.

  • Pensam que poderiam ou deveriam ter feito o abuso parar.

  • O agressor era manipulador.

  • O agressor fez parecer que o abuso era desejado pela vítima ou que foi desencadeado por ela.

  • Sentem que fizeram algo para incentivar o abuso.

  • Pensaram que fosse um comportamento normal.

  • Não sabiam que o que estava acontecendo era um abuso.

  • Foram levadas a crer que deveriam se arrepender, como se tivessem pecado de alguma maneira por terem sido abusadas.

Não importa o que você possa sentir ou o que lhe tenha sido dito, você não é culpado pelas ações dos outros.

Você não é responsável

Em situações de abuso, o agressor usou o arbítrio dele ou dela para ferir você. Você não é responsável por uma escolha feita por outra pessoa.

Em um discurso em um devocional da BYU, o professor Benjamin M. Ogles fez a seguinte analogia:

“Alguns se perguntam se fizeram algo errado para merecer aquela situação. Alguns questionam seu próprio comportamento e se perguntam se fizeram alguma coisa para incentivar a outra pessoa a ignorar os desejos deles — como se, de alguma maneira, tivessem convidado esse comportamento. Especialmente se tomaram outras decisões, que agora veem como questionáveis, na época do incidente; eles podem pensar que são, de algum modo, parcialmente responsáveis pelo que aconteceu com eles. Mas você não é responsável por aquilo que não consentiu! Essa é a essência do arbítrio.

Permitam-me ilustrar com uma experiência pessoal. Em 1990 nossa família se mudou para uma comunidade bem pequena no sudeste de Ohio chamada The Plains. Na primeira noite, alguém abriu nosso carro e pegou tudo o que queria pegar. Quando vi que tinha sido roubado, vários pensamentos me vieram imediatamente à mente:

‘Se eu tivesse estacionado mais perto de casa e longe da rua’.

‘É minha culpa porque eu devia ter trancado as portas do carro.’

‘Fui muito ingênuo de pensar que estávamos seguros só porque essa cidade é muito pequena e interiorana.’

‘Se eu estivesse mais alerta, teria evitado que isso acontecesse.’

Estão vendo como assumi a responsabilidade por um crime cometido por outra pessoa? Não importa onde estacionei o carro, o quão ingênuo fui ou se tranquei as portas ou não, ninguém tem o direito de tirar as coisas de meu carro sem minha permissão. Não fui responsável pelo roubo. Ainda assim, assumi a culpa porque imaginei coisas que achei que deveria ter feito diferente” (“Agency, Accountability, and the Atonement of Jesus Christ: Application to Sexual Assault”, devocional da Universidade Brigham Young, 30 de janeiro de 2018, pp. 5–6, em speeches.byu.edu).

No Livro de Mórmon, aprendemos: “Os que praticam iniquidades o fazem contra si mesmos; pois eis que sois livres” (Helamã 14:30; grifo do autor).

Se você é vítima de abuso, a culpa não é sua. Você não é culpado pelas ações dos outros, independentemente das circunstâncias, e a cura é possível por meio do Salvador Jesus Cristo.

Recursos comunitários e da Igreja

(Alguns dos recursos listados a seguir não foram criados nem são mantidos ou controlados por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Embora esses materiais tenham o objetivo de servir como recursos adicionais, a Igreja não endossa conteúdos que sejam contrários a suas doutrinas e seus ensinamentos. Alguns desses recursos talvez estejam disponíveis somente em inglês.)

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Onde posso obter ajuda?

A ajuda pode vir de várias maneiras e de diferentes fontes. Geralmente, o Pai Celestial responde a nossas orações provendo ajuda por meio de outras pessoas. O próprio Salvador recebeu ajuda dos discípulos e de amigos. Até mesmo um anjo esteve com Ele, fortalecendo-O durante o sofrimento no Jardim do Getsêmani (ver Lucas 22:43). É essencial receber o amor e o apoio de outras pessoas durante seu processo de cura.

Fontes de ajuda

Se estiver se sentindo só, saiba que há pessoas que o amam e querem ajudá-lo, inclusive seus Pais Celestiais, o Salvador Jesus Cristo e o Espírito Santo. Eles podem ser suas maiores fontes de ajuda. O Salvador sentiu todas as suas dores e aflições, mesmo aquelas causadas por outras pessoas, e Ele sabe como ajudá-lo (ver Alma 7:11–12). O Espírito Santo pode nos dar conforto, paz e força espiritual para seguir em frente. Por meio da oração ao Pai Celestial, peça ajuda e você será guiado para as pessoas que podem oferecer esse apoio.

Decidir quando e a quem pedir ajuda é uma decisão pessoal. No começo, talvez você ache difícil procurar sua família, seus amigos ou os líderes da Igreja para pedir ajuda. Pode ser mais fácil conversar com um grupo de apoio ou um terapeuta (ver “Devo buscar ajuda profissional?”). Pedir ajuda pode ser assustador; no entanto, ao fazer isso, você pode se surpreender com a quantidade de amor e aceitação que receberá.

Escolha pessoas que apoiam os princípios do evangelho. Terapeutas profissionais devem ser licenciados (onde aplicável) e qualificados para ajudar em casos de abuso.

Recursos comunitários e da Igreja

(Alguns dos recursos relacionados a seguir não foram criados, nem são mantidos ou controlados por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Embora esses materiais tenham o objetivo de servir como recursos adicionais, a Igreja não endossa conteúdos que sejam contrários a suas doutrinas e seus ensinamentos. Alguns desses recursos talvez estejam disponíveis somente em inglês.)

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Devo procurar ajuda profissional?

Receber ajuda profissional pode melhorar sua vida, aumentar sua autoestima e fortalecer seus relacionamentos. Você não precisa carregar sozinho a dor causada pelo abuso, e não precisa carregá-la para sempre.

Você talvez tenha dificuldades em sentir alegria devido ao abuso que sofreu. No entanto, nosso Pai Celestial quer que você sinta alegria. O presidente Dallin H. Oaks disse: “Uma das maiores revelações de Deus é o ensinamento do pai Leí de que ‘os homens existem para que tenham alegria’ (2 Néfi 2:25). A alegria é muito mais que felicidade. Alegria é a suprema sensação de bem-estar” (“Alegria e misericórdia”, A Liahona, janeiro de 1992, p. 81).

A ajuda pode vir de muitas maneiras. Pode incluir proteção das autoridades civis, orientação de terapeutas profissionais ou apoio de outras pessoas (ver “Onde posso obter ajuda?”).

Ajuda quando você estiver em crise

Se você foi ou está sendo abusado ou se estiver se sentindo inseguro, talvez precise de ajuda imediata de autoridades civis, dos serviços de proteção à criança, dos serviços de proteção aos adultos ou de profissionais da área médica. Você também pode buscar a ajuda de um advogado ou de um defensor de vítimas. Esses serviços podem ajudá-lo a prevenir mais abusos (ver “Em crise” para ajuda imediata).

Ajuda para consolo, apoio e cura

Não importa quando aconteceu o abuso, você pode se beneficiar de apoio e de ajuda profissional. A maioria das vítimas se cura melhor quando alguém acredita nelas, quando elas têm seus sentimentos validados, quando se sentem seguras e protegidas e quando entendem como o abuso as afetou. O apoio pode ajudá-lo a encontrar a paz e a não se sentir sozinho enquanto busca encontrar a cura.

Obter ajuda também pode fornecer o seguinte:

  • Uma conexão com outras pessoas

  • Alguém que pode ouvir com compaixão

  • Alguém que pode dar apoio

  • A crença de que a cura é possível

  • Sentimentos de amor e aceitação

  • Orientação durante o processo de cura

  • Coragem e capacidade de seguir em frente por meio do processo de cura

  • Mais pensamentos positivos

Encontrar apoio pode ajudá-lo a começar a sentir esperança. Pode também ajudá-lo a encontrar felicidade e alegria.

Recursos comunitários e da Igreja

(Alguns dos recursos relacionados a seguir não foram criados, nem são mantidos ou controlados por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Embora esses materiais tenham o objetivo de servir como recursos adicionais, a Igreja não endossa conteúdos que sejam contrários a suas doutrinas e seus ensinamentos. Alguns desses recursos talvez estejam disponíveis somente em inglês.)

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Será que é possível perdoar?

O perdão somente é possível por meio do poder do Salvador Jesus Cristo. Se você foi vítima de abuso, talvez sinta que o perdão seja uma tarefa aparentemente impossível. Os pensamentos e sentimentos ruins provenientes da dor do abuso podem ser intensos. Talvez você sinta que nunca vai se livrar deles. Talvez também se sinta pressionado a simplesmente “perdoar e esquecer” o abuso e achar que é culpado por ter dificuldade em perdoar.

Há vários graus de danos físicos, emocionais, mentais e espirituais que resultam do abuso, e ninguém pode determinar seu nível de dor, exceto você. Cada ferida leva tempo para curar, e feridas mais profundas exigem mais tempo, assim como um braço quebrado leva mais tempo para curar do que um corte feito com papel. Quanto mais profunda a ferida, seja física, emocional, emocional ou espiritual, mais tempo levará para se curar.

O perdão pode demorar

Ao trabalhar no processo de cura, com a ajuda do Senhor, você pode começar a perdoar aqueles que o prejudicaram. Talvez você não consiga perdoar imediatamente. A capacidade de perdoar vem do poder de nosso Salvador Jesus Cristo, que, por intermédio da Expiação, tomou sobre Si e sentiu cada uma das dores que você sente agora (Alma 7:11–12). É possível ficar livre da influência que essa dor exerce sobre você. O Senhor o ama, não importa quão profunda seja a dor ou quanto tempo demore para que seja curada.

O presidente James E. Faust disse: “O perdão nem sempre é instantâneo. (…) A maioria de nós precisa de tempo para lidar com a dor e a perda. Podemos encontrar todo tipo de motivo para adiar o perdão. Um desses motivos é esperar que o agressor se arrependa para depois perdoá-lo. Mas essa demora faz com que deixemos de usufruir a paz e a felicidade que poderíamos ter” (“O poder de cura do perdão”, A Liahona, maio de 2007, pp. 67–68).

O que o perdão traz

O perdão nos ajuda a viver em paz e alegria novamente.

O presidente Faust citou o Dr. Sidney Simon: “Perdoar é libertar-nos e fazer melhor uso da energia que consumiríamos ao guardar rancor, ressentimentos e mágoas. É redescobrir os pontos fortes que sempre tivemos e redirecionar nossa capacidade ilimitada para compreender e aceitar as pessoas e nós mesmos” (“O poder de cura do perdão”, p. 68).

Perdoar não significa esquecer a ofensa ou fingir que nunca aconteceu. Não significa permitir que o abuso continue. Não significa que todos os relacionamentos podem ser curados. E não significa que o ofensor não será responsabilizado por suas ações. Significa que O Salvador pode ajudá-lo a seguir em frente.

O élder Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze Apóstolos, ensinou como se faz para perdoar as ofensas graves. Ele disse: “É importante para alguns de vocês que estejam vivendo em verdadeira agonia entendam o que Ele não disse. Ele não disse: ‘Não vos é permitido sofrer uma dor real ou uma tristeza verdadeira devido às experiências arrasadoras que sofrestes nas mãos de outros’. Ele também não disse: ‘A fim de perdoar completamente, deveis vos envolver novamente em um relacionamento nocivo ou voltar a viver uma situação abusiva e destrutiva’. Mas, apesar das mais terríveis ofensas que podemos sofrer, podemos nos erguer acima de nossa dor quando trilhamos o caminho que leva à verdadeira cura. Esse é o caminho do perdão trilhado por Jesus de Nazaré, que convida a cada um de nós, dizendo: ‘Vem, segue-Me’” (“O ministério da reconciliação”, Liahona, novembro de 2018).

Perdoar a si mesmo

Talvez você ache que precise perdoar a si mesmo devido ao abuso. Lembre-se de que você não é culpado pela ação de outras pessoas (ver “E se eu achar que sou culpado pelo abuso?”).

Talvez você esteja se esforçando para perdoar a si mesmo por escolhas negativas que tenha feito para lidar com a dor do abuso. É importante aprender a ter compaixão de si mesmo. O Senhor disse que Ele “molda suas misericórdias às condições dos filhos dos homens” (Doutrina e Convênios 46:15). Ele sabe o que você necessita e como pode ajudá-lo.

Recursos comunitários e da Igreja

(Alguns dos recursos listados a seguir não foram criados nem são mantidos ou controlados por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Embora esses materiais tenham o objetivo de servir como recursos adicionais, a Igreja não endossa conteúdos que sejam contrários a suas doutrinas e seus ensinamentos. Alguns desses recursos talvez estejam disponíveis somente em inglês.)

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O que faço se estiver com dificuldades para confiar nas pessoas?

Se você foi vítima de abuso, talvez sinta que nunca mais será capaz de confiar totalmente em alguém. Talvez se pergunte se pode confiar em outra pessoa, em você mesmo ou até em Deus para se manter seguro. O sentimento de traição gerado pelo abuso pode ser especialmente difícil de superar quando o ofensor é alguém próximo a você e, às vezes, até mais difícil quando praticado por alguém que deveria proteger você.

A gravidade de algumas ofensas pode explicar por que talvez leve muito tempo para que você restabeleça a confiança e restaure a sensação de segurança depois do abuso. Além disso, a natureza destrutiva do abuso pode impedir que consiga restabelecer a confiança no ofensor. Lembre-se de que perdoar uma pessoa não significa que você deve confiar nela.

Desenvolver confiança nos novos ou nos antigos relacionamentos

Relacionamentos saudáveis, tanto novos como antigos, são desenvolvidos com base na confiança. Você pode escolher se vai confiar nas pessoas quando elas estiverem dispostas a fazer coisas que edifiquem ou restabeleçam sua confiança. Aprender a confiar nas pessoas exige tempo e nutrição constantes.

Desenvolver confiança é como uma conta bancária cujo saldo aumenta ou diminui, dependendo dos depósitos e das retiradas que são feitos. Ao desenvolver um relacionamento de confiança com alguém, lembre-se dos princípios a seguir:

  1. Você é o proprietário de sua conta — você escolhe quem vai receber sua confiança.

  2. Desenvolva confiança no seu próprio ritmo — não se sinta pressionado a confiar em alguém enquanto não estiver pronto.

  3. Decida que comportamentos são depósitos (tais como ser respeitoso e honesto) e os que são retiradas (tais como desonestidade, guardar segredo ou encobrir erros).

  4. Deixe claro para as pessoas que comportamentos aumentam sua confiança e os que a diminuem.

  5. Tenha confiança na exatidão de suas próprias observações sobre o comportamento dos outros.

  6. Adapte a proximidade de seus relacionamentos tendo como base o nível de confiança que está sendo desenvolvido.

Se decidir que vai confiar em alguém, determine os limites necessários para se manter em segurança. Algumas pessoas talvez prefiram não fazer a parte delas para desenvolver confiança e não merecem seu crédito. O Senhor nos aconselhou a ser “prudentes como as serpentes e inocentes como as pombas” (Mateus 10:16).

Embora algumas pessoas não sejam dignas de confiança, você pode sempre confiar que o Senhor o ama e vai ajudá-lo a se curar. Se buscar a ajuda de Deus, vai descobrir “suas ternas misericórdias” (ver 1 Néfi 8:8), que são uma evidência de que você pode confiar Nele. “Sua misericórdia é um bálsamo poderoso, mesmo ao inocente ferido” (Boyd K. Packer, “A razão de nossa esperança”, A Liahona, novembro de 2014, p. 7).

Se ainda estiver com dificuldades para confiar, procure a ajuda de uma pessoa madura e confiável, como um dos pais, um membro da família, um amigo, um líder da Igreja e um professor ou mentor. Você também pode pedir ajuda a um terapeuta profissional para reconstruir a confiança em você mesmo e em outras pessoas.

Recursos comunitários e da Igreja

(Alguns dos recursos listados a seguir não foram criados nem são mantidos ou controlados por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Embora esses materiais tenham o objetivo de servir como recursos adicionais, a Igreja não endossa conteúdos que sejam contrários a suas doutrinas e seus ensinamentos. Alguns desses recursos talvez estejam disponíveis somente em inglês.)

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Posso confiar em meu próprio julgamento?

Sim, você pode aprender a confiar em si mesmo. É comum que as vítimas de abuso percam a confiança em seu próprio julgamento e não sintam confiança ao tomar decisões. Você pode ganhar a confiança de que precisa para confiar em si mesmo. O élder Dieter F. Uchtdorf disse: “Há uma solução até mesmo para o desespero e o desânimo mais profundos que vocês possam sentir. Essa esperança é encontrada no poder transformador do evangelho de Jesus Cristo e no poder redentor do Salvador para curar as doenças de nossa alma” (“Acreditar, amar, fazer”, Liahona, novembro de 2018, p. 47).

Por que pode ser difícil confiar em sua tomada de decisão

Os agressores geralmente fazem ou falam coisas que não são verdadeiras ou que são injustas para ferir as vítimas e obrigá-las a fazer o que eles querem. Isso se chama manipulação ou aliciamento. Como o agressor tentou ganhar sua confiança, é provável que você tenha acreditado ou confiado nele. Talvez você olhe para trás e acredite que poderia ter feito algo para impedir o abuso e se proteger, o que pode aumentar os sentimentos de insegurança. Isso pode ter levado você a duvidar de seu próprio julgamento e de sua capacidade de fazer escolhas.

Pode ser que você não confie mais em sua capacidade de tomar decisões nas tarefas diárias simples. Essa falta de confiança pode se estender a decisões maiores, como escolhas sobre relacionamentos ou emprego. Isso pode ser desanimador, e você pode perder a esperança de ser capaz de voltar a confiar em si mesmo.

Desenvolver confiança em si mesmo novamente

Você pode começar a desenvolver confiança em si mesmo, dando passos pequenos e simples. Lemos nas escrituras: “É por meio de coisas pequenas e simples que as grandes são realizadas” (Alma 37:6).

Você pode começar a recuperar sua capacidade de confiar em si mesmo, tomando decisões simples. Comece, por exemplo, escolhendo algo para pedir no restaurante. Você pode tomar essa decisão e confiar que é uma decisão aceitável. Defenda sua decisão e se lembre de que não há uma resposta certa ou errada mesmo que ela não aconteça como você esperava.

Reconheça seus esforços em tomar decisões e ser responsável. Ao desenvolver a capacidade de tomar pequenas decisões, você também poderá tomar decisões mais significativas. Observe seus sentimentos. Ao fazê-lo, você se tornará mais confiante.

Pense sobre suas decisões e os possíveis resultados. Ter o apoio de um amigo em quem confia pode ajudá-lo nesse processo. Ele pode ajudá-lo a determinar quais decisões realmente não importam e quais são mais importantes. Um amigo também pode validar que está tudo bem com uma decisão que você queira tomar e que você pode confiar em si mesmo.

À medida que adquire confiança em si mesmo, pode aprender o seguinte:

  • Você pode confiar em suas impressões.

  • Você pode receber revelações e inspiração.

  • Suas observações podem ser corretas e verdadeiras.

  • Suas opiniões e crenças são importantes.

  • As opiniões e os sentimentos de outras pessoas não são mais importantes do que os seus.

Desenvolver a autoconfiança leva tempo. Isso é normal. O élder Jeffrey R. Holland ensinou: “Sede vós pois perfeitos — no final!” (“Sede vós pois perfeitos — No final!”, Liahona, novembro de 2017, p. 40.) O amor do Salvador significa que, mesmo quando cometemos erros, podemos aprender com eles e continuar a desenvolver nossa autoconfiança.

Além disso, somos abençoados com a orientação do Espírito Santo, o que nos ajuda a distinguir entre o certo e o errado. “Como membros da Igreja, podemos ter a companhia do Espírito Santo continuamente. (…) O Espírito Santo concede revelação pessoal para nos ajudar a tomar decisões importantes na vida” (Robert D. Hales, “O Espírito Santo”, A Liahona, maio de 2016, p. 105). O Pai Celestial e o Salvador querem que utilizemos o dom do Espírito Santo em nossa vida. Adquirir e fortalecer a confiança no Pai Celestial e em Jesus Cristo pode aumentar sua confiança para buscar a influência do Espírito Santo.

Recursos comunitários e da Igreja

(Alguns dos recursos listados a seguir não foram criados nem são mantidos ou controlados por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Embora esses materiais tenham o objetivo de servir como recursos adicionais, a Igreja não endossa conteúdos que sejam contrários a suas doutrinas e seus ensinamentos. Alguns desses recursos talvez estejam disponíveis somente em inglês.)

Será que consigo desenvolver relacionamentos seguros e saudáveis?

Você consegue desenvolver relacionamentos seguros e saudáveis mesmo que sinta que isso não é possível devido aos abusos que sofreu. Com tempo e esforço, você pode vivenciar satisfação e alegria em seu convívio com os outros.

Desenvolver relacionamentos saudáveis

Desenvolver relacionamentos saudáveis é como plantar e cuidar de uma semente. O presidente Spencer W. Kimball ensinou que um relacionamento “é como uma flor e, assim como o corpo, necessita ser nutrido constantemente” (“Marriage and Divorce”, devocional na Universidade Brigham Young, 7 de setembro de 1976, p. 6, speeches.byu.edu). Em um relacionamento, negligência ou maus-tratos fazem com que ele murche e, possivelmente, morra, assim como a falta de nutrição e cuidados fazem com que uma planta morra. Ambas as partes em um relacionamento precisam fazer um esforço contínuo para desenvolver uma conexão segura e significativa. Todo relacionamento requer esforço para se desenvolver, manter ou, até mesmo, consertar essa conexão.

Os relacionamentos saudáveis incluem algumas características semelhantes a estas:

  • Respeito pelo arbítrio e pela autonomia um do outro

  • Honestidade

  • Confiança

  • Compromisso de atender às necessidades um do outro

  • Comunicação sincera de pensamentos e sentimentos

  • Respeito pelas diferenças e pelos pontos fortes

  • Apoio mútuo

  • Responsabilidade e prestação de contas

  • Limites claros e bem estabelecidos

  • Respeito pelos limites do outro

Talvez a coisa mais importante que você possa fazer para desenvolver relacionamentos com os outros é fortalecer o relacionamento consigo mesmo e com Deus. Comece aprendendo a ver a si mesmo como Deus o vê — com um maravilhoso potencial eterno.

O presidente Dieter F. Uchtdorf ensinou: “Reservem um pouco mais de tempo para se conhecerem melhor. (…) Aprendam a se ver como o Pai Celestial vê vocês: como Seus preciosos filhos e filhas, com potencial divino” (“As coisas que mais importam”, A Liahona, novembro de 2010, p. 22).

Com o tempo e com a ajuda de outras pessoas, você começará a ver a si mesmo de outra maneira e a tratar a si mesmo com paciência, bondade, respeito e perdão. Você pode aprender a mudar suas crenças e emoções prejudiciais. Se tiver problemas com seus esforços, talvez queira procurar aconselhamento profissional. Talvez também precise estabelecer ou restabelecer um sistema de apoio.

Quando fortalecer o relacionamento consigo mesmo e com Deus, você aprenderá como aplicar os mesmos princípios para estabelecer relacionamentos saudáveis com outras pessoas. Esforçar-se para criar relacionamentos satisfatórios, estimulantes e recíprocos lhe trará alegria.

Recursos comunitários e da Igreja

(Alguns dos recursos listados a seguir não foram criados nem são mantidos ou controlados por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Embora esses materiais tenham o objetivo de servir como recursos adicionais, a Igreja não endossa conteúdos que sejam contrários a suas doutrinas e seus ensinamentos. Alguns desses recursos talvez estejam disponíveis somente em inglês.)

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Como posso me proteger?

Sua segurança é a coisa mais importante a ser levada em consideração em uma situação de abuso. Não se espera que as pessoas tolerem o comportamento abusivo. Você pode procurar os serviços de proteção para obter ajuda e desenvolver um plano de segurança que vai ajudá-lo a ficar protegido contra novos abusos. Há situações das quais é aconselhável sair.

Serviços de proteção

Existem muitos grupos e serviços que podem ajudar a protegê-lo e evitar mais abusos. Eles podem incluir:

  • Autoridades civis

  • Serviços de proteção à criança

  • Serviços de proteção ao adulto

  • Advogado de vítimas

  • Profissionais de saúde e aconselhamento

  • Abrigos

Se você não tem certeza sobre quais recursos deve procurar, consulte a página Em crise? Fale Agora ou entre em contato com os Serviços Familiares SUD. Pense também em pedir ajuda ao seu bispo.

Planos de segurança

Um plano de segurança é um plano personalizado para ajudá-lo a saber o que fazer quando confrontado com situações abusivas. Esse plano pode orientar você e seus familiares para reduzir o risco de danos em situações que podem acontecer.

Os planos de segurança incluem, mas não estão limitados a:

  • Identificar famílias e amigos em quem possam confiar

  • Fazer uma lista de números de telefone de recursos em casos de emergência (autoridades civis, familiares ou amigos)

  • Recursos financeiros para cobrir as necessidades básicas

  • Planejar como acessar meios de transporte para chegar a um lugar seguro se necessário

  • Identificar locais para onde ir em caso de fuga se necessário (tais como família, amigos ou um abrigo)

  • Decidir o que fazer em situações perigosas

  • Conversar com os filhos e outros familiares sobre o que eles podem fazer em situações perigosas

Os recursos a seguir podem ajudá-lo a saber mais sobre os planos de segurança e desenvolver um plano que seja adequado para suas circunstâncias e necessidades específicas.

Recursos comunitários e da Igreja

(Alguns dos recursos listados a seguir não foram criados nem são mantidos ou controlados por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Embora esses materiais tenham o objetivo de servir como recursos adicionais, a Igreja não endossa conteúdos que sejam contrários a suas doutrinas e seus ensinamentos. Alguns desses recursos talvez estejam disponíveis somente em inglês.)

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Descobrir meu valor

Observação: Esta é uma experiência real contada por um sobrevivente de abuso. Os nomes e as informações de identificação foram alterados.

Esta carta foi escrita originalmente para um treinamento de estaca a fim de ajudar os bispos a lidarem com os sobreviventes de abuso sexual. Compartilhada aqui com permissão.

Caros bispos,

Eu gostaria de ajudá-los a entender como é ter que guardar um segredo desagradável — um segredo que se arrasta desde a infância.

Todos vocês já me viram, e muitos sabem quem sou. Vários já trabalharam comigo. Disseram-me que vocês me consideram uma jovem bem responsável. Servi missão e já ocupei vários chamados de liderança significativos. Entretanto, existe uma parte de mim, ligada a meu passado, que não pode ser vista na aparência externa — embora, às vezes, já senti que algumas pessoas soubessem a respeito do meu passado. Pessoas como eu frequentemente sentem que a qualquer momento serão “descobertas” e que o resultado será uma péssima reputação e rejeição.

Não sei quantos anos eu tinha quando tudo começou — e provavelmente nunca saberei —, mas fui abusada sexualmente quando criança, primeiro por alguns meninos da vizinhança e, mais tarde, por um primo mais velho. Sempre que isso acontecia, eu me sentia desprezível e procurava esquecer. Fui bem-sucedida em guardar essas lembranças em um canto escuro da minha mente até meu último ano do Ensino Médio, quando me deparei com uma situação que me fez lembrar daqueles abusos.

Depois disso, lembrei-me de algumas coisas do passado e contei o que tinha acontecido comigo para minha melhor amiga. Ela foi a primeira e a única pessoa a quem confiei meu segredo depois de muitos anos, porque, quando se é abusada sexualmente, geralmente, você se sente feia, suja e culpada. Sente uma profunda autodepreciação. Acredita que, se as pessoas souberem, elas verão a maldade e olharão para você de outra maneira.

No Ensino Médio, e muitas vezes desde aquela época, passei por períodos de anorexia — uma condição que, aprendi, é muito comum entre as vítimas de abuso sexual. O abuso sexual representa a perda do controle sobre algo sagrado e pessoal. Eu sentia uma necessidade profunda de controlar algo. Controlar meu apetite, pensei, ajudaria a superar meu sentimento de autodepreciação. É claro que isso não funcionou, e a situação só piorou quando o padrão de passar fome ficou fora de controle. Tive outros motivos para adotar esse comportamento de distúrbio alimentar. Durante o segundo período de abusos, meu agressor falava que meu corpo não era o que ele queria. Isso me condicionou a ter um sentimento negativo sobre minha aparência.

Também tinha medo de que as pessoas falassem sobre o que aconteceu comigo. Sinto dificuldade em namorar. Nos relacionamentos, tenho a tendência de me tornar como um camaleão e me adaptar aos gostos e desgostos da pessoa que estou namorando. Tem sido difícil para mim ter uma assertividade positiva. Isso é comum entre as vítimas.

Tenho lutado com esse terrível segredo durante toda a minha vida. É difícil reconhecer minha inocência diante de Deus e separar isso do que estava realmente errado — fui violada por um abusador. Isso se torna ainda mais difícil pelo fato de que, quando fui molestada, eu era uma criança inocente e não entendia que não conseguiria dar consentimento para o comportamento. Por que não parei o abuso? Por que deixei que continuasse? Por que isso tinha de acontecer? Quando fiquei mais velha, fiz uma projeção de meu crescente nível de compreensão de mim mesma como uma garotinha. Senti-me ainda mais culpada quando percebi erroneamente minha capacidade cada vez maior de escolher à medida que os anos se passavam. Esse tipo de raciocínio é comum. E só piora o fato de que muitas mulheres, por se sentirem tão mal a seu próprio respeito, tendem a se relacionar com homens que reforçam suas percepções negativas, tratando-as como objetos e não como filhas de Deus. Muito de nossa autodepreciação deriva desse padrão de pensamento e comportamento.

Os abusos sexuais que sofri também me causavam pesadelos. Por muitos anos, esses pesadelos me atormentaram periodicamente. Aprendi a controlar meus pensamentos para que Satanás não tenha muito espaço para criar esses sonhos terríveis.

Esses pesadelos me levaram a conversar com meu bispo sobre o abuso sexual que sofri. Nossas conversas foram úteis. Meu bispo me convidou para participar de um grupo dos Serviços Familiares SUD. O momento e o ambiente eram exatamente do que eu precisava.

Sou grata pelo fato de meu Pai Celestial ter me ensinado sobre meu valor e ter sido paciente comigo quando eu não orava a Ele em meus dias mais solitários. Orar é geralmente algo difícil para as vítimas de abuso sexual. A confiança se desenvolve com enorme dificuldade — até mesmo a confiança em Deus e, às vezes, especialmente a confiança em Deus.

O abuso na infância violou meu sentimento inato de segurança e minha crença na mão protetora de Deus. O processo de orar com dedicação e propósito foi possível por uma decisão que tomei de buscar e confiar, um esforço para cultivar a humildade e uma crescente compreensão de que Deus me ama e quer que eu seja feliz. As perspectivas que adquiri na missão, quando aprendi a orar com fé, foram essenciais para minha cura. Participar do grupo de aconselhamento dos Serviços Familiares SUD também foi importante para meu processo de cura.

Tive que aprender que o Senhor ajudaria a me curar. As feridas do abuso sexual são profundas. O trabalho com meu bispo e com o grupo dos Serviços Familiares SUD ajudou a abrir, a limpar e a fechar minhas feridas. Estou ficando curada. Desconfio que ainda haverá momentos em que minhas feridas vão doer, mas elas estão muito menores do que costumavam ser. Sou grata.

Bispos, saibam que sua maneira de tratar as pessoas e o nível de respeito que demonstram às mulheres são um exemplo para os que estão à sua volta. Ver homens justos no evangelho nos dá esperança de que há homens neste mundo nos quais podemos confiar. Uma das maiores ajudas que podemos receber é o incentivo para descobrir nosso valor individual. Todos recebemos o dom de ser filhos de Deus e herdeiros de valor inato. É algo precioso quando descobrimos que temos valor e encontramos um caminho para o Salvador, que confirma nosso valor por meio de Seu sacrifício. Começamos a compreender como Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e as nossas dores.

Encontrei uma força grandiosa no Salvador. Sei que Ele me ama e Se preocupa comigo. Também aprendi o quanto Ele pode me ajudar quando O recebo em meu coração. Sou uma pessoa mais forte devido a esse conhecimento. Ainda tenho um longo caminho pela frente.

Minhas orações estão voltadas a vocês, bons bispos. Vocês carregam um fardo pesado, mas sei que o Senhor está a seu lado, fortalecendo-os. Obrigada por estarem em uma posição na qual o Senhor pode contar com sua ajuda. Que o Senhor os abençoe em tudo o que fazem.

Atenciosamente,

Sua irmã

Se você ou alguém que conhece foi abusado, procure imediatamente ajuda das autoridades civis, dos serviços de proteção à criança e dos serviços de proteção aos adultos. Você também pode procurar ajuda de um defensor legal, de um advogado para vítimas ou de um profissional médico. Esses serviços podem ajudá-lo a prevenir mais abusos. Ver a página “Em crise” para obter mais informações.

Encontrar pontos de luz

Observação: Esta é uma experiência real contada por um sobrevivente de abuso. Os nomes e as informações de identificação foram alterados.

Meu casamento parecia estar começando bem. Eu estava apaixonada e feliz. Mas, depois de um tempo, o abuso físico, emocional e verbal começou. Eu precisava de uma saída para manter a mim mesma e a meus filhos seguros. Por não saber como criar um futuro para minha família e por sentir medo, não procurei ajuda. Mas, depois de nove anos, descobri uma maneira de me libertar.

O que fiz para sair depois de nove anos vivendo nesse abuso? O que fiz? Finalmente parei de ouvir a voz do adversário que me dizia que não havia uma saída. Em vez disso, comecei a encontrar pequenos pontos de luz que o Pai Celestial colocava em minha vida, que me deram esperança e serviram de guia para sair de um casamento abusivo. Precisei aprender a orar e a seguir em direção a Deus para encontrar esses pontos de luz:

  1. Guardava os convênios, pagava o dízimo e aprendi a seguir os sussurros do Espírito — essas ações me mantiveram conectada à fé em meu Pai Celestial.

  2. Conversava frequentemente com meu bispo e ganhei forças para receber revelação pessoal. Por meio dessa força, soube o momento certo de sair.

  3. Ganhei a perspectiva e a resposta de que eu não podia ajudar, consertar ou levar meu marido à luz. Ele estava nas mãos do Pai Celestial — eu tinha que sair da situação!

  4. Ganhei minha independência financeira estudando e me tornando professora (mas levou cinco anos no meu casamento para chegar a esse ponto).

  5. As circunstâncias me levaram a um policial que me deu informações sobre o centro de crises.

  6. O centro de crises me ajudou a obter uma ordem de proteção temporária.

  7. Recebi do tribunal uma ordem de proteção permanente, depois o divórcio e a custódia total de nossos filhos.

Houve contratempos mentais e emocionais enquanto eu me curava; eles ocorriam durante meus pesadelos. O adversário colocava mentiras em minha mente, como: “É demais para você: muito trabalho, muitos filhos, muitos problemas. Quem vai querer você se você for embora? Você tem que lidar com muitas coisas. Você foi muito fraca para ajudar seu próprio marido”. O adversário procurou destruir minha autoestima com pensamentos negativos, tentando me fazer acreditar que eu era inútil. Os pensamentos que me vinham à mente persistentemente depois desses episódios de crise felizmente não duraram muito.

Por quê? Devido à grande quantidade de trabalho que eu tinha que fazer: eu era mãe de cinco filhos, três dos quais tinham autismo. Guardei e guardo meus convênios. Eu estava ensinando crianças da quinta série com autismo, estava obtendo o certificado de ensino e fazendo o mestrado em educação especial, tudo ao mesmo tempo. Ao me concentrar no trabalho, em meu testemunho e em minha vida, ganhei a visão e a evidência de minhas bênçãos. Essa evidência silenciou a voz do adversário.

Também ganhei a perspectiva e a esperança de que a comunicação, as amizades e o amor podem ser desenvolvidos. Eu observava, registrava no diário e depois lia e relia repetidas vezes para encontrar padrões, pontos de apoio, estruturas, amizades e as armadilhas que podem ser colocadas a qualquer um de nós.

Ao aprender a sentir o amor novamente, descobri dois princípios poderosos: (1) o amor do Pai Celestial por Seus filhos é perfeito e, (2) graças a esse amor, o Pai Celestial não interfere no arbítrio de Seus filhos. Por meio de nosso arbítrio, podemos escolher a luz ou a escuridão, o amor ou a guerra. Podemos ouvir os sussurros do Espírito. Podemos ter esperança! E, finalmente, podemos encontrar pontos de luz para nos tirar do abismo do abuso.

Se você ou alguém que conhece foi abusado, procure imediatamente ajuda das autoridades civis, dos serviços de proteção à criança e dos serviços de proteção aos adultos. Você também pode procurar ajuda de um defensor legal, de um advogado para vítimas ou de um profissional médico. Esses serviços podem ajudá-lo a prevenir mais abusos. Ver a página “Em crise” para obter mais informações.

Ganhar um renovado senso de identidade

Observação: Esta é uma experiência real contada por um sobrevivente de abuso. Os nomes e as informações de identificação foram alterados.

Quando eu tinha 8 anos de idade, meu pai começou a abusar de mim fisicamente. Não me lembro quando aconteceu pela primeira vez; só sei que, quando estava na quarta série, apanhar de meu pai fazia parte de minha vida diária. Por muitos anos, considerei isso normal, até mesmo algo que eu merecia. Meu pai frequentemente falava que era minha culpa estar sendo “punida” daquela maneira. Dizia que eu era uma criança terrível, muito pior do que as crianças que ele conhecia. Se eu fosse mais obediente, se deixasse meu quarto mais limpo, se tirasse melhores notas, se não o deixasse tão bravo, se fosse uma filha melhor, ele não precisaria me bater. Ele dizia que só estava fazendo aquilo para me ensinar uma lição e me tornar uma pessoa melhor. De fato, ele dizia que só me batia porque me amava. E por ser uma jovem que amava o pai e queria desesperadamente que ele a amasse de volta, acreditei nele.

Esforcei-me o máximo que pude como criança para fazer tudo o que ele me pedia. Naquela época, eu era quieta e até mesmo dócil. Esforcei-me muito para ser obediente, educada, inteligente, mas nada o fazia parar. As regras mudavam e eu estava sempre do lado errado delas.

Meu comportamento começou a mudar na adolescência. Comecei a sentir raiva de que nada que eu fizesse parecia funcionar. Quando a raiva e a frustração aumentaram, comecei a me defender quando meu pai me batia. Isso somente intensificou a violência e, às vezes, eu faltava na escola, na igreja e em eventos sociais devido a esse abuso. Essa raiva afetou o restante de minha vida. Eu brigava com todo mundo — com meus irmãos, amigos, professores da escola e com os líderes da Igreja. Meu comportamento mudava drástica e rapidamente — feliz e amorosa em um momento, mesquinha e malvada logo em seguida.

Não foi só isso que mudou. Minhas notas escolares caíram drasticamente. Antes de o abuso começar, fui colocada em uma escola avançada com programas de aprendizado acelerado. No final do Ensino Médio, eu estava com dificuldades para conseguir me formar. A pessoa quieta, estudiosa e confiante do início se transformou em uma pessoa insegura, indisciplinada e cheia de raiva. Apesar de tudo isso, nunca contei a ninguém o que estava acontecendo em casa. Eu achava que era minha responsabilidade manter isso em segredo. Embora no Ensino Médio eu soubesse que o abuso era errado, sentia-me responsável por manter a aparência de minha família e não falava o que estava acontecendo em minha casa. Cabia a mim garantir que parecesse que nossa família era normal para nossos vizinhos e para os membros da ala.

A vida continuava uma espiral fora de controle como jovem adulta. Saí da casa de meus pais assim que pude e pensei que a vida seria melhor quando eu estivesse sozinha. Mas não melhorou — e de muitas maneiras piorou. A escuridão que me envolveu nessa época de minha vida não é algo sobre o que gosto de pensar. A depressão, a raiva e a ansiedade aumentaram. Consistentemente me encontrava em relacionamentos emocionalmente voláteis, dos quais não sabia como sair. Eu queria desesperadamente ter uma vida normal e pacífica, mas não tinha ideia de como fazer isso ou como seria. Sentia-me desajustada, vivendo em um mundo escuro. Conseguia ver pessoas normais e felizes vivendo vidas normais e felizes, mas eu nunca conseguiria me juntar a elas. Eu simplesmente não me encaixava.

Naquela época, comecei a me sentir espiritualmente inspirada a servir missão. Mas eu não tinha o menor desejo de servir missão, portanto resisti a esses sussurros por muitos anos. Por fim, concordei e recebi um chamado para servir no leste europeu. Minha missão era difícil e, devido a minhas batalhas pessoais, às vezes, era difícil servir comigo. Fui muito abençoada com companheiras gentis e um presidente de missão compassivo, cuja esposa era especialista de aconselhamento em saúde emocional. Durante a missão, decidi buscar aconselhamento pelo abuso que vivenciei enquanto crescia.

Um pouco depois de voltar para casa, liguei para o escritório dos Serviços Familiares SUD mais próximo. Não tinha a menor ideia do que estava fazendo; a recepcionista me perguntou que tipo de ajuda eu estava precisando e eu disse: “Bem, meu pai costumava me bater muito”. Ela designou uma terapeuta para mim e agendou um horário para nossa primeira conversa.

Lembro-me de estar em pé em frente ao prédio do escritório dos Serviços Familiares SUD antes daquele compromisso. Senti-me extremamente estúpida. “Estou exagerando”, disse para mim mesma. “Devo voltar para casa.” Tinha certeza de que, quando eu explicasse por que estava lá, a terapeuta reviraria os olhos, falaria que a terapia era para pessoas com problemas “reais” e daria a entender que eu estava sendo um tanto quanto dramática. Quase não entrei.

Mas sou muito grata por ter entrado. Posso dizer que a primeira sessão de terapia foi o momento de mudança no rumo de minha vida.

Minha terapeuta foi a primeira pessoa a ouvir minha história com compreensão e empatia genuínas. Ela validou as dificuldades que eu vivenciara há anos. Até aquele momento, não tinha me dado conta do quanto eu precisava de validação — senti como se estivesse respirando ar fresco em uma sala que estivera fechada há quase 20 anos. Ela identificou muito do que eu considerava meu “ponto fraco” (minha raiva, depressão e meu talento para relacionamentos românticos desastrosos) como sintomas de TEPT (transtorno de estresse pós-traumático) e respostas típicas e normais a ambientes traumáticos. Eu era normal? Não era defeituosa? Desde os 8 anos de idade, eu ouvira o contrário. Pela primeira vez, senti uma esperança profunda de que poderia ser feliz. Sai daquela sessão com uma leveza no coração que nunca sentira antes.

Fiz terapia por aproximadamente um ano. Algumas sessões eram intensas; outras, mais leves. No decorrer daquele ano, trabalhei para desfazer o dano emocional causado pelo abuso de meu pai. A terapeuta me ajudou a identificar novas maneiras de pensar e me comportar que eu não teria identificado sozinha. Meus pensamentos lentamente começaram a mudar de negativos e autodepreciativos para mais positivos e proativos. Chorei muito durante a terapia, tanto no consultório como sozinha. Mas também comecei a sorrir com mais naturalidade e me sentir mais genuinamente em paz comigo mesma e com a vida. No final do tratamento, eu era capaz de pensar e falar sobre o abuso sem me sentir triste, assustada ou envergonhada. Fiz várias descobertas importantes, inclusive percebi que o abuso nunca fora minha culpa e que eu era uma pessoa competente e valiosa.

Fui à terapia sentindo um grande fardo que nunca compartilhara com outras pessoas. Se eu não tivesse ido e tivesse permanecido no meu curso original, sei que a espiral descendente teria continuado. Teria me esforçado muito para “me manter inteira”, mas, como sempre, essa dor teria me levado a decisões e situações cada vez mais dolorosas. Terminei a terapia com um sentimento de autorreparação e com as habilidades de vida que eu normalmente teria se tivesse crescido em um ambiente doméstico saudável. Ganhei uma noção maior de quem eu era, de como lidar com conflitos, de como era me sentir confiante e do que fazer quando pensamentos ruins e negativos viessem a minha mente. Saí da terapia pronta para viver sem medo.

Isso já faz quase dez anos. Depois daquela época, terminei os estudos e me formei na faculdade, iniciei uma carreira e me casei. Tenho me empenhado muito para defender a saúde emocional e incentivo aqueles que estão enfrentando dificuldades a procurar ajuda profissional. Às vezes, ainda tenho dificuldades; não acredito que elas acabarão totalmente. Mas agora sei como lidar com elas para que não sejam tão intensas e não durem por muito tempo. Minha vida é infinitamente mais feliz, mais abundante e mais satisfatória do que seria sem essa intervenção. Sou extremamente grata pela bênção da terapia.

Se você ou alguém que conhece foi abusado, procure imediatamente ajuda das autoridades civis, dos serviços de proteção à criança e dos serviços de proteção aos adultos. Você também pode procurar ajuda de um defensor legal, de um advogado para vítimas ou de um profissional médico. Esses serviços podem ajudá-lo a prevenir mais abusos. Ver a página “Em crise” para obter mais informações.

Posso sentir paz novamente

Observação: Esta é uma experiência real contada por um sobrevivente de abuso. Os nomes e as informações de identificação foram alterados.

Meus irmãos e eu nascemos em uma família disfuncional. Quando eu era apenas um garotinho, lembro que meus pais brigavam muito. Eles nos disciplinavam de maneiras que eu achava serem normais, mas agora reconheço que eram abusivas: socos, tapas, chicotadas, banhos de água fria, insultos, ameaças e puxões de cabelo e de orelha. Às vezes, atiravam objetos em nós. Com frequência, eles não estavam em casa e meu irmão mais velho ficava cuidando de nós. Ele seguia o exemplo de meus pais.

Nunca vou me esquecer quando Luis começou a abusar sexualmente de mim. Isso geralmente acontecia quando nós dois estávamos sozinhos em casa. Eu pensava que era o único de quem ele abusava sexualmente até que o vi com minha irmã quando eu tinha 8 anos.

O abuso de Luis foi piorando com o passar do tempo. Ele me disse que, se eu não cooperasse, ele me mataria. Acreditei nele. Muitas vezes, na juventude, perdi todas as esperanças e me sentia completamente traumatizado, desejando desaparecer ou morrer. Sentia-me culpado e me perguntava o que tinha feito de mal para ser punido tão severamente. Estava sempre com muito medo. Orei muitas vezes a Deus; no entanto, eu achava que Ele nunca me ouvia. Sentia-me confuso e abandonado.

Tinha medo de contar para meus pais sobre as ações de Luis. E Luis estava sempre monitorando. Quando meus pais estavam presentes, ele usava linguagem corporal para me ameaçar e mostrar o que aconteceria se eu dissesse qualquer coisa. Constantemente eu procurava me esconder de meu irmão e não me sentia seguro em minha própria casa. Eu queria abandonar a escola e trabalhar para ficar menos tempo em casa. Mas não tive permissão para fazer isso.

Um dia, quando eu tinha 11 anos, meu pai me deu dinheiro para comprar refrigerantes para a família. Enquanto caminhava para a mercearia, Luis se aproximou por trás de mim e mandou que eu lhe entregasse o dinheiro. Ele disse: “Se nosso pai perguntar onde estão as bebidas, fale que você foi roubado”.

Eu estava cansado daquela situação em minha vida e me recusei a obedecer a ele. Ele ficou bravo e me bateu até que caí no chão. Levantei-me e voltei cambaleando para falar com meu pai. Com lágrimas caindo pelo rosto, contei a ele o que Luis fizera. Meu pai ficou furioso com ele.

Depois disso, senti certo alívio. Mas não contei para meu pai sobre o abuso sexual; eu estava envergonhado e quase me sentia culpado pelas coisas sexuais repugnantes que Luis me obrigara a fazer. Depois que falei com meu pai, Luis parou de abusar sexualmente de mim, mas continuou a me bater e a me machucar. Aprendi a viver com a dor. Nada se comparava com o que ele tinha feito anteriormente comigo.

Posteriormente, Luis decidiu entrar para o exército. Para nós, foi a pior decisão que ele poderia ter tomado. Minha mãe e meu pai se sentiram aliviados que Luis ficaria fora de casa por um tempo, mas ele teve problemas no exército. Ele ficou mais louco ainda. O que ele vivenciou no exército aumentou ainda mais sua natureza violenta. Depois que foi dispensado do serviço, ele estava pior do que antes.

Depois, Luis iniciou sua própria família. Tínhamos esperança de que isso o ajudaria a mudar. Mas não foi o que aconteceu. Ele fez mais vítimas. A esposa e os filhos choravam constantemente. E ele continuou a brigar conosco e até mesmo com nossos vizinhos.

Quando fiz 18 anos, finalmente decidi sair de casa. Eu estava cansado daquela vida. Eu tinha cicatrizes e ossos quebrados que me lembravam da violência que sofri com Luis.

Depois de vários anos, conheci uma jovem e me casei, desejando ter uma família maravilhosa, melhor do que aquela na qual fui criado. No entanto, nosso relacionamento não deu certo e o casamento acabou. Fiquei deprimido. Perdi meu emprego. Não conseguia mais estudar. Quebrei a lei da castidade e parei de ir à igreja. Uma parte de mim se sentia desconectada com a realidade. Eu não tinha esperança nem motivação.

Comecei finalmente a orar muito a Deus pedindo ajuda. Tomei coragem e confessei meus pecados ao bispo. Ele me encaminhou para os Serviços Familiares SUD para fazer terapia. No início achei que meus problemas não fossem grandes. No entanto, comecei a contar minha história e a encarar meus problemas terríveis. Aprendi a melhorar meu relacionamento com minhas irmãs. Também percebi que tinha uma dependência sexual e comecei a frequentar as reuniões do programa de recuperação de dependências da Igreja. Descobri muitas coisas a meu respeito naquele processo.

Foi um caminho difícil, mas, depois de algum tempo, com o incentivo de meus amigos do programa de recuperação, decidi voltar completamente para a Igreja. Comecei a trabalhar arduamente para ser perdoado pelas escolhas que fizera como resultado da dor que sentia e para ser digno de entrar no templo novamente.

Encontrei respostas nas reuniões de recuperação. Lá, posso compartilhar livremente meus pensamentos e sentimentos. Meus amigos no programa entendem meus problemas e não me julgam. Eles me aceitam como sou e veem um futuro brilhante para mim.

Minha jornada continua a exigir tempo, paciência, amor, serviço, comunicação aberta e um coração humilde. Dou pequenos passos, um de cada vez, sentindo alívio dos fardos que pesavam sobre meus ombros. Pelo poder de Cristo e de Sua Expiação, adquiri maior controle de minha vida. Deus mudou minha alma e posso sentir paz novamente. Agora tenho esperança no futuro.

Se você ou alguém que conhece foi abusado, procure imediatamente ajuda das autoridades civis, dos serviços de proteção à criança e dos serviços de proteção aos adultos. Você também pode procurar ajuda de um defensor legal, de um advogado para vítimas ou de um profissional médico. Esses serviços podem ajudá-lo a prevenir mais abusos. Ver a página “Em crise” para obter mais informações.

Aprender a cada dia

Observação: Esta é uma experiência real contada por um sobrevivente de abuso. Os nomes e as informações de identificação foram alterados.

Eu estava com 33 anos e tinha me divorciado recentemente quando decidi começar a sair em encontros novamente. Em duas ocasiões diferentes, fui estuprada por homens que conheci em atividades sociais. Foi muito difícil me conscientizar do que aconteceu comigo. Levou muito tempo para que eu reconhecesse o que tinha acontecido. Meu corpo ficou em choque e fiquei paralisada; passei por períodos em que me senti completamente usada, sem valor e envergonhada.

Houve momentos em que senti vontade de desistir porque a luta era exaustiva. Eu sabia que não conseguiria vencer essa batalha sozinha. Procurei ajuda profissional com uma terapeuta e ela me ajudou e orientou durante o processo de pesar.

Também me aconselhei com meu bispo regularmente. Juntos, eles me orientaram e incentivaram a seguir em frente e a fortalecer meu relacionamento com o Pai Celestial e com Jesus Cristo. Nos momentos em que me ajoelhava pedindo ajuda, eu sabia que o Pai Celestial estava me refinando, dando-me forças aos poucos para superar tudo aquilo. A esperança e a cura são possíveis. Aprendi muitas coisas a meu respeito e a respeito do Pai Celestial e meu Salvador durante essa jornada.

Aprendi a confiar no Pai Celestial. Ele sabe o que é melhor para nós. Aprendi que, quando preciso de ajuda, de conselhos ou de orientação, devo orar.

Aprendi a identificar quem eram meus amigos e como é ser um verdadeiro amigo. Também aprendi a estabelecer limites.

Aprendi mais sobre o amor, a compaixão e a paciência.

Aprendi a ser gentil comigo mesma e a não me culpar, especialmente quando algo não é minha culpa. Aprendi a não me julgar ou ser tão dura comigo mesma. Aprendi a me amar mais a cada dia.

Sou grata pela coragem tranquila que me ajudou a ser quem sou. Ainda estou progredindo e aprendendo todos os dias, mas sou muito grata pelo caminho que estou trilhando e por tudo o que conquistei.

Essa pode ter sido uma jornada silenciosa — muitos não sabem o que passei —, mas acho que muitas vezes os atos mais silenciosos de coragem podem ser os mais fortes.

Entendo o poder de cura que Cristo é capaz de oferecer devido à Sua Expiação. Entendo um pouco mais a dor e a agonia que Ele suportou por mim no jardim e na cruz. Acredito no poder dos anjos e na proteção que eles nos dão. Sei que não estava sozinha nesta jornada e meu testemunho de que Deus está verdadeiramente envolvido em todos os aspectos de nossa vida foi fortalecido. Ele não dá apenas uma espiada em nós de vez em quando; Ele sempre investirá em nós e cuidará de nós.

Meu testemunho foi fortalecido. Aprendi que o mundo espiritual é real. Sabia que estava batalhando contra o adversário diariamente. Às vezes, eu me imaginava vestindo uma armadura espiritual; isso me deu forças. Sabia que tinha que me proteger espiritualmente do peso e da névoa que precisei atravessar para reconhecer e aceitar minhas experiências. Meu sofrimento era tão profundo e real que realmente fez com que meu coração e meu corpo sentissem dor. Às vezes, sentia como se meu corpo estivesse doente.

No entanto, essa experiência também trouxe uma força interior — uma força que eu nunca soube que tinha. Uma força que é gentil, incentivadora e edificante. Uma força que me diz que consigo fazer coisas difíceis. Sei que é uma força que vai me impelir para frente em tempos difíceis e desafiadores. Uma força que me conhece mais do que eu mesma. Senti um reavivamento em meu espírito, em minha alma, em meu ser eterno que já viveu com o Pai Celestial, em meu espírito que sabe do que sou capaz.

Nossa alma vale muito mais do que podemos imaginar! Ao confiarmos na ajuda e no poder de Jesus Cristo, podemos finalmente conquistar, vencer, triunfar e ter sucesso! Somos filhos e filhas de um Rei Celestial, e isso é algo para se alegrar! Somos feitos para coisas grandiosas e belas — coisas que não podemos imaginar ou sentir. Vamos nos alegrar com quem somos; somos belos e magníficos aos olhos de nosso Pai Celestial. Somos de grande valor! Acredito que nossa alma anseia por estar em casa com nosso Pai Celestial e voltar à Sua presença. Eu O louvarei para sempre, meu Pai, meu Rei.

Se você ou alguém que conhece foi abusado, procure imediatamente ajuda das autoridades civis, dos serviços de proteção à criança e dos serviços de proteção aos adultos. Você também pode procurar ajuda de um defensor legal, de um advogado para vítimas ou de um profissional médico. Esses serviços podem ajudá-lo a prevenir mais abusos. Ver a página “Em crise” para obter mais informações.

Minha jornada

Observação: Esta é uma experiência real contada por um sobrevivente de abuso. Os nomes e as informações de identificação foram alterados.

A partir dos 6 anos de idade, até aproximadamente os 14 anos, sofri abuso sexual repetidamente por um primo dez anos mais velho que eu. Eu era muito apegado a esse primo e a sua família. Estava constantemente na casa deles. Eu os amava mais do que poderia expressar. Como é comum em casos de abuso sexual infantil, minha mente jovem não compreendia totalmente o impacto do abuso até atingir uma idade de compreensão — no meu caso, isso aconteceu por volta dos 16 anos de idade. Em vez de entender que o abuso não era minha culpa (e como poderia ser… um menino de 6 anos não deveria saber ou vivenciar as coisas que me ensinaram e que foram feitas comigo), interiorizei o abuso e culpei a mim mesmo. Os sentimentos de culpa e de repugnância eram enormes! A única maneira como eu poderia escapar do ódio que sentia por mim mesmo era encontrar uma via que me permitisse sentir maior controle sobre minha vida (mesmo que eu não estivesse no controle). Na adolescência, esse “controle” se manifestou na forma de distúrbios alimentares — anorexia nervosa e bulimia.

Deteriorei física e emocionalmente. Atingi o “fundo do poço” quando pesava cerca de 45 quilos e estava prestes a precisar ser hospitalizado — meu coração e meus órgãos internos estavam começando a falhar. Como resultado, comecei a estudar em casa com a ajuda de professores incentivadores. Meu médico me ajudou a chegar a um peso mais adequado e me encaminhou para um psicólogo. Ele era um homem excelente e me ajudou muito! Durante as sessões de terapia, comecei a encarar o abuso que ocorrera e os sentimentos de confusão e a dor que permaneciam em mim. Minha longa jornada para a cura estava começando.

Alguns meses mais tarde, finalmente decidi que as coisas não podiam mais ser “varridas para debaixo do tapete” em nossa família — uma coisa dessas não poderia ficar escondida, ser ignorada ou guardada em segredo sem ser resolvida. Temia que meu primo estivesse fazendo o mesmo com outros meninos e eu também sabia que ele estava envolvido em pornografia infantil. Eu conhecia as profundas cicatrizes que o abuso me causou e não queria que outros meninos sofressem porque eu não tinha coragem de contar o que aconteceu. Então, relatei o abuso.

Infelizmente, isso causou problemas na família que me trouxeram um sentimento de culpa ainda maior. Quando a notícia de que meu primo tinha abusado sexualmente de mim veio à tona pela primeira vez, alguns familiares disseram que não queriam “tomar partido”. No entanto, nunca pensei que houvesse um “lado” para isso. Eu não queria que desprezassem meu primo ou o renegassem. A única coisa que eu queria era reconhecer o que aconteceu, que foi algo terrível para mim, como criança, ter passado por aquilo, e que meu primo tinha que enfrentar as consequências e a responsabilidade pelas escolhas que ele fez — e, no processo, receber a ajuda e o apoio que precisava. Em última análise, para mim, com a terapia e o apoio de meu bispo, perdoei meu primo e os membros de minha família que não me apoiaram — isso não é mais um fardo que tenho que suportar. Há Alguém muito maior do que eu, que pagou o preço para que eu não tenha que carregar esse fardo; como sou grato por meu Salvador.

Para aqueles que foram feridos, peço que não desistam. Não percam a esperança. Não deixem de seguir em frente. A cura não acontece de um dia para o outro. Às vezes, a integridade pode nem vir nesta vida, mas o caminho que percorremos nunca foi feito para ser perfeitamente reto e suave. Sempre haverá solavancos e falhas, altos e baixos, reviravoltas e curvas. Temos a oportunidade de fixar nossos olhos no horizonte e continuar caminhando, mesmo que apenas um passo de cada vez (mesmo que alguns passos sejam dados para trás de vez em quando). Embora o abuso sexual tenha terminado há muitos anos e eu tenha percorrido um longo caminho até a cura, ainda ocasionalmente tenho um pesadelo recorrente que me faz reviver o abuso.

Isso me deixará para sempre destruído? De jeito nenhum. As cicatrizes das feridas do passado podem permanecer para sempre, mas elas não me definem. Ferido? Sim. Destruído? Não. Como adulto, quase completamente curado, aprendi a consolar a criança ferida que ainda vive dentro de mim. Depois de mais um desses pesadelos, volto a dormir com palavras de consolo infiltrando-se no subconsciente de um garotinho assustado: “Não é sua culpa. Não se sinta culpado. Não assuma o peso dessa dor para si mesmo”. Acredito nessas palavras e incentivo a todos que foram feridos a se lembrarem: Não é sua culpa! Você é amado. Você não está destruído. Com o tempo, todas as feridas se curam e todos os erros serão corrigidos graças àquele “que é poderoso para salvar” (2 Néfi 31:19).

Se você ou alguém que conhece foi abusado, procure imediatamente ajuda das autoridades civis, dos serviços de proteção à criança e dos serviços de proteção aos adultos. Você também pode procurar ajuda de um defensor legal, de um advogado para vítimas ou de um profissional médico. Esses serviços podem ajudá-lo a prevenir mais abusos. Ver a página “Em crise” para obter mais informações.

Um dia de cada vez

Observação: Esta é uma experiência real contada por um sobrevivente de abuso. Os nomes e as informações de identificação foram alterados.

Não me lembro exatamente quantos anos eu tinha quando o abuso começou. Meu irmão, que é aproximadamente nove anos mais velho que eu, começou a me molestar. Às vezes, o abuso acontecia durante o dia quando meus pais saiam e ele cuidava de mim. Uma vez ele ligou o rádio — ainda me lembro da música que estava tocando. Odeio aquela música.

Quando completei 8 anos, meu pai deveria me batizar. Mas ele não poderia estar presente na data agendada e minha mãe não queria mudar a data de meu batismo, então ela sugeriu que meu irmão me batizasse. Sem saber o que dizer, deixei que ele o fizesse. Depois disso, questionei a validade de meu batismo por muito tempo.

Meu outro agressor foi meu primo. Ele começou a abusar de mim quando sua família veio nos visitar por duas semanas. Eu tinha entre 7 e 8 anos de idade. Odiava tudo aquilo.

Dois anos mais tarde, a família de meu primo se mudou para perto da minha. Nós os visitávamos nos finais de semana e ficávamos por várias semanas no verão. O abuso continuou. Ele sempre procurava ficar sozinho comigo. Sentia-me repugnante, suja e impotente.

Aos 12 anos conversei, com meu bispo sobre receber uma recomendação do templo para fazer batismos pelos mortos. Quando ele fez uma das perguntas da recomendação, comecei a chorar. Ele sabia o que isso significava. Tudo o que ele disse foi: Quem? Contei somente sobre meu primo. Meu irmão estava para voltar para casa da missão, então eu não disse nada sobre ele. Debati-me com essa decisão durante muito tempo em minha vida.

No oitavo ou nono ano da escola, comecei a beber bebidas alcoólicas. Na adolescência me envolvi sexualmente com vários namorados. Eu tinha uma atitude do tipo “não me importo” e fazia o que me pediam. Depois do Ensino Médio, fui morar com meu namorado por cerca de um ano até terminarmos o relacionamento.

Um bom amigo me ajudou a pensar sobre o que eu queria fazer da minha vida. Voltei a frequentar a Igreja e comecei a colocar minha vida de volta nos trilhos. Por fim, casei-me com um homem incrível. Depois de 13 anos de casados, contei-lhe sobre o abuso. Ele me tomou nos braços e me abraçou. Ajudou-me a procurar ajuda profissional e, depois, comecei a frequentar terapia de grupo. Fiquei deprimida por meses depois de contar a meu marido sobre o abuso, mas, depois de participar da terapia individual e em grupo, comecei a progredir.

Vivenciei muitos efeitos do abuso. Sou uma pessoa muito protetora. Não confio facilmente nas pessoas. Tenho dificuldade de tomar decisões sozinha.

De alguma maneira, tenho usado o que aprendi para ser uma mãe melhor. Meu marido e eu ensinamos nossos filhos sobre o toque apropriado. Temos uma política de comunicação aberta e dizemos a nossos filhos que eles podem conversar conosco sobre qualquer coisa.

Ainda tenho dias ruins, mas aprendi a aceitar as coisas um dia de cada vez. Os dias ruins diminuíram agora. Sinto esperança no futuro.

Se você ou alguém que conhece foi abusado, procure imediatamente ajuda das autoridades civis, dos serviços de proteção à criança e dos serviços de proteção aos adultos. Você também pode procurar ajuda de um defensor legal, de um advogado para vítimas ou de um profissional médico. Esses serviços podem ajudá-lo a prevenir mais abusos. Ver a página “Em crise” para obter mais informações.

Tenho esperança

Observação: Esta é uma experiência real contada por um sobrevivente de abuso. Os nomes e as informações de identificação foram alterados.

Quando eu era adolescente, fui fisicamente atacada e estuprada por um amigo da família. Ele era um homem respeitado e de confiança. Tudo o que eu achava que sabia sobre a vida mudou.

Cresci sendo ensinada a estar feliz quando estivesse perto de outras pessoas. Era dessa maneira que eu lidava com qualquer desafio da vida e não foi diferente depois da agressão. Para as pessoas ao meu redor, eu aparentava ser bem-sucedida. Continuei a tirar boas notas e a participar da equipe esportiva após o horário escolar, assim como outras atividades extracurriculares. Eu era ativa em minha ala e nas atividades dos jovens. Não queria que ninguém soubesse o que tinha acontecido, então fazia tudo o que podia para parecer normal.

Mas, por mais que eu tentasse, não conseguia fugir do que havia acontecido. Apesar de minha aparência, eu lutava contra a depressão, ansiedade e estresse pós-traumático. Não deixava ninguém me tocar — mesmo que fossem meus pais, irmãos e irmãs. Durante o dia eu lembrava da violência e, à noite, eu a revivia em meus sonhos. Até mesmo a oração, que antes era algo que me consolava, passou a parecer ineficaz e muitas vezes terminava em ataques de pânico.

O agressor ameaçou me matar e muitas vezes eu achava que teria sido melhor se ele tivesse concretizado suas ameaças.

Em busca de controle e alívio das dores emocionais, usei a automutilação como válvula de escape. Fui tomada de um sentimento tão grande de vergonha e autodepreciação sobre o sofrimento do meu corpo que parecia que nada mais que acontecesse com ele importava. Era difícil acreditar que eu tinha valor. Não era possível separar o que tinha acontecido comigo de quem eu realmente era. Eu me sentia muito suja. Como Deus poderia um dia realmente me amar? Não entendia o significado do sacrifício do Salvador em minha vida e sentia que meus problemas eram irreparáveis. Aquelas crenças doentias e distorcidas resultavam em uma falta de confiança no Pai Celestial e me impediam de me aproximar Dele genuinamente.

Durante aquele período, procurei a ajuda tanto de um terapeuta quanto de um psiquiatra. Eu sabia que precisava de ajuda e que era abençoada por ter pais que me levavam para me consultar com um terapeuta. O processo de cura de um trauma é longo e doloroso, mas por ter aceitado receber ajuda de uma terapeuta, ela me ajudou a aprender a lidar com o meu trauma de maneira saudável, substituindo os mecanismos destrutivos que eu estava utilizando. Por meio da terapia, percebi como os padrões de pensamentos doentios que eu tinha desenvolvido após o ataque estavam influenciando minha vida.

Percebi que eu havia me distanciado de Deus. Sim, eu fiz a escolha consciente de continuar indo à igreja. Sim, eu sabia que queria — e precisava — do evangelho em minha vida, mas meu testemunho não era forte o suficiente para resistir à minha insegurança. Era muito difícil ver sucesso e falar a respeito dessas crenças nesse cenário terapêutico.

Entrei para a faculdade alguns anos depois do estupro. Essa nova etapa da minha vida trouxe um desafio estipulado pelo meu bispo para que eu desenvolvesse um relacionamento melhor com o Pai Celestial. Eu ainda não tinha certeza se conseguiria cumpri-lo ou se merecia o que Ele ofereceu, mas eu estava determinada a tentar.

A escritura em Alma 32:27 se tornou minha salvação: “Mas eis que, se despertardes e exercitardes as vossas faculdades, pondo à prova as minhas palavras, e exercerdes uma partícula de fé, sim, mesmo que não tenhais mais que o desejo de acreditar, deixai que esse desejo opere em vós, até acreditardes de tal forma que possais dar lugar a uma porção das minhas palavras”. E eu tive o desejo de me aproximar do meu Pai Celestial.

Eu sabia que tinha muito trabalho a fazer e queria saber por onde começar. Na época, a parte mais forte do meu testemunho era centralizada na Restauração. Eu sabia que Joseph Smith tinha recebido uma resposta para sua pergunta, então decidi perguntar ao Pai Celestial como eu poderia me achegar a Ele.

A resposta veio com um pensamento tranquilo: “Aprenda sobre mim”.

Segui nessa direção ao me colocar em situações em que eu poderia aprender o evangelho. Comecei a perceber que o Pai Celestial sempre esteve ao meu lado esperando que eu me abrisse para recebê-Lo. Derrubar as barreiras que construí lentamente nos anos anteriores foi um processo lento, mas constante. Durante esse período, minhas orações frequentemente ecoavam as súplicas de um pai em favor de seu filhos: “Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade” (Marcos 9:24). Quanto mais eu aprendia sobre o evangelho, mais o meu testemunho crescia e menos eu me afastava do Pai Celestial.

Sempre gostei de aprender, mas pela primeira vez, eu me apaixonei pelo estudo do evangelho. Quanto mais eu aprendia, mais acreditava e mais queria aprender. Comecei a ver mudanças em minha vida e a influência da agressão começou a diminuir.

Continuo me consultando com a terapeuta, quando necessário. A ajuda profissional tem sido uma parte vital da cura do meu trauma sexual. Aprendi a reconhecer minhas emoções e lidar com meus pensamentos e comportamentos. As habilidades que aprendi na terapia salvaram minha vida em várias ocasiões. Concentrar-me em meu desenvolvimento espiritual e em minha saúde mental era exatamente o que eu precisava para me ajudar a crescer.

Sempre serei uma mulher que foi estuprada, mas esse acontecimento não afeta quem sou como filha de Deus. Os sentimentos de ter sido violada, de me sentir suja e não ser boa o suficiente ainda perturbam minha mente, mas agora sou capaz de me lembrar de verdades eternas para enfrentar esses sentimentos. A cada passo que dou, acredito mais nessas verdades.

Aprendi sobre a magnitude da Expiação de Cristo e o poder que Ele possui, não só de nos redimir de nossos pecados, mas de nos santificar e possibilitar que alcancemos nosso potencial divino. Acredito no poder da mudança que vem do Salvador e de Sua Expiação. Acredito em meu valor como filha do Pai Celestial e agora sei que meu Pai e meu Salvador me amam mais profundamente do que sou capaz de compreender.

Acima de tudo, aprendi sobre a natureza do Pai Celestial e de Jesus Cristo. Ao seguir os sussurros para aprender mais sobre quem Eles realmente são, foi-me mostrado que posso confiar completamente Neles e como colocar essa confiança e fé em prática.

Eu costumava sentir muita escuridão. Mas escolher seguir o evangelho de Jesus Cristo trouxe Sua luz incomparável para minha vida. Agora, ao olhar adiante, tenho esperança.

Se você ou alguém que conhece foi abusado, procure imediatamente ajuda das autoridades civis, dos serviços de proteção à criança e dos serviços de proteção aos adultos. Você também pode procurar ajuda de um defensor legal, de um advogado para vítimas ou de um profissional médico. Esses serviços podem ajudá-lo a prevenir mais abusos. Ver a página “Em crise” para obter mais informações.